Caramba… só parando um pouco para tentar digerir tanta informação…
Aconteceu muita coisa depois dos dois relatos anteriores (parte I e parte II). Eu tinha ficado devendo uma tarefa da semana 3, sobre a crise dos refugiados, uma estratégia didática de “decodificação”, partindo um padlet com várias mídias sobre o tema.
Decodificação de mídias é o termo que descreve a prática de fazer a leitura reflexiva de qualquer mensagem, seja ela uma notícia, post ou até mesmo embalagem, buscando examinar, entre outros aspectos, autoria, intenção e técnicas nela utilizadas. Esse tipo de leitura é fundamento da educação midiática.
A proposta então foi analisar quatro itens seguindo o roteiro:
1 -Quem criou essa mensagem [autor]?
2 -Por que ela foi criada [propósito ou motivação]?
3 -O que o autor quer que você pense / sinta?
4- Que estratégias ou técnicas foram usadas para atingir esse propósito?
5 -Essa mensagem é confiável / posso confiar nessa fonte? Por quê?
6 -Os fatos se sustentam / o texto apresenta evidências?
7 -Existe algum interesse [econômico, político] por trás dessa mensagem?
8 -Como me senti com a leitura dessa mensagem?
Mas o mais difícil mão foi encontrar essas respostas, o que de fato pesou foi encarar uma situação tão dramática e não poder fazer nada, ou quase nada… minhas respostas estão nesse pdf.
Duas coisa me chamaram atenção nessa tarefa: a primeira foi pensar quem são os nossos refugiados? Quando morei em sp, na condição de migrante nordestino de classe média, o sútil muro que separa sudestinos e nordestinos me espantou. Mas a condição do retirante não nos horroriza tanto, ou será que não?

– Candido Portinari
A outra questão que a atividade me trouxe foi pensar em como incluir nesse mosaico a perspectiva daqueles que pensam de forma contrária, ou seja o olhar nacionalista e xenofóbico. Mas sem dar voz aos discursos de ódio ou às simplificações. Aqui a linguagem das artes pode ser um contraponto interessante, me lembrei do filme Play (2011) do Ruben Östlund. O filme faz um retrato interessante dos conflitos e das dificuldades de convivência entre jovens imigrantes e nativos.
Infelizmente acabei perdendo o encontro on-line do dia 27/10, mas assisti a gravação (e mais uma vez agradeço a simpática menção!). O slide do papo tem dicas legais como o Rio: Alem do mapa e a ferramenta ThingLink. No encontro a Mariana, a Dani e a Carla discutem o papel da criação na aprendizagem, ou seja como podemos usar as linguagens digitais para reinventar a forma como aprendemos.

E assim entramos na semana 4, que tem como tema central: Criar para aprender.
Na primeira atividade a gente viu estratégias para a criação de conteúdos jornalísticos dentro de ambientes escolares. Além do vídeo abaixo, recebemos um toolkit com várias ferramentas para ajudar na elaboração de projetos multimídia.
Achei o vídeo muito legal, me lembrei do Célestin Freinet, um dos pioneiros dessa prática. Minha pergunta foi sobre como atualizar essa prática pedagógica, para o atual cenário onde os jornais perderam a centralidade na divulgação das notícias? Como lidar com a descentralização informativa?

Vale ler essa reportagem sobre a forma como os jovens se informam.
Me lembro que na época que estava dando aula no curso de jornalismo na PUC Minas perguntei aos alunos quantos assinavam um jornal ou tinham por hábito a leitura diária de algum veiculo da grande mídia, aqui entendendo leitura como o passeio por um fac-símile digital do jornal impresso, da primeira página até a última. Não preciso dizer que são raríssimos os que fazem isso e assinar um jornal menos ainda. Até eu desisti de passear pela versão digital da folha… hoje em dia me contento em apenas passar o olho nas chamadas do app, clicando aqui ou ali em algo que desperta minha atenção.
Será que tem como sair desse círculo vicioso? Quem pode ser criticado por fugir de coisas desinteressantes? O design natural dos pássaros já denuncia que vai vencer a luta para conquistar nossa atenção…
Na atividade seguinte a gente experimentou um pouco de design thinking tentando aplicar suas possibilidades para contar uma história de forma mais criativa. O tema provocador era pensar em algo sobre o mundo pós pandemia.

Eu não estava com muitas ideias… mas a pergunta me intriga.
Depois a gente mergulhou na linguagens dos memes e tentou bolar um…

Fiz esse meme usando o fazedor de memes imgflip e a dica sobre o ceticismo saudável do nosso segundo encontro.

Na última atividade da quarta semana a gente viu alguns exemplos de como aplicar as práticas e as estratégias da educação midiática na sala de aula. O capítulo 4 do guia tem vários exemplos interessantes de aplicação nas escolas. Nos pediram para escolher dois exemplos e comentar.
Escolhi a atividade 10 (pág 119):
“Ao discutirmos identidade e diversidade,
vamos analisar ilustrações em textos literários,
games e embalagens de brinquedos, levando
os alunos a refletir sobre representação.”
É impressionante a força das questões identitárias, de todos os textos que já publiquei nesse blog/site o campeão de acessos é justamente um artigo que fiz sobre Gilberto Freyre e a identidade cultural. Esse tema me interessa bastante, cresci na maior cidade negra fora da África, inclusive ajudei a criar um dos primeiros programas de rádio no Brasil sobre música africana (link1 e link2). Achei a proposta da atividade bem adequada ao perfil etário, minha sugestão no caso de alunos mais velhos é introduzir o debate sobre o conceito branquitude, ou propor uma listinha tipo buzzfeed ou quiz com os 10 maiores privilégios que um branco ou branca pode ter. Também vale assistir ao ótimo documentário da Chelsea Handler: Alô, Privilégio? É a Chelsea.
A outra atividade foi a 12 (pág 129 ):
“Ao discutirmos a pandemia de 2020, vamos
identificar textos sobre a covid-19 apresentados em
linguagens e formatos diferentes, levando os alunos
a refletir sobre confiabilidade, técnicas e propósito.”
O tema é quentíssimo e também muito complexo. Aqui não vejo como não abordar com os alunos alguns aspectos do funcionamento da própria ciência. A riqueza de campos como a epistemologia e os estudo sociais das ciências às vezes ficam espremidas nas páginas dos jornais. As anedotas quanto a condenação ou recomendação do consumo de ovo (veja aqui um resumo). No caso de fenômeno tão complexo quanto a atual pandemia a velocidade de informações e contra informações é vertiginosa. Mas nessa guerra muitas sutilezas sobre o delicado campo da saúde são desconsideradas. Para citar apenas um exemplo, basta ver essa reportagem sobre a polêmica pesquisa do Dr. John Ioannidis.
Aqui tem uma dica sobre como ativar as legendas dos vídeos em inglês.
Todas as etapas desse relato estão sendo agrupadas na tag #educação-midiática.
Bônus
Uma atividade extra não obrigatória foi tentar bolar uma camiseta para promover a proposta do Educamidia, essa foi minha sugestão (será que ficou muito hermética…rs).

Postado originalmente em 09/11/2020